sexta-feira, 23 de maio de 2014

LEMBRANÇAS DE MEU PAI

Gracinda Calado
A música revive em atos a tua história: Um tango de Gardel.
O vento me traz momentos de alegria em que passamos juntos no solar da velha casa da ponte.
À noite ouvindo o coaxá dos sapos no jardim, ríamos de sua música dolente sem nexo ou sem entoação.
Os grilos faziam festa nas trepadeiras amarelas e roxas, cheias de flores,
E nas roseiras pequenos besouros atrevidos se encostavam,
Atraídos pelo perfume que embriagava a todos.
Quieta em um canto eu ouvia tuas histórias e façanhas do tempo da II guerra.
O sono chegava e minha mãe levava-me pelo braço para dormir.
Recordo ainda o cheiro dos teus charutos baianos, cuja fumaça se espalhava pelo ar,
E o teu olhar quase parado no tempo recordava alguma história.
Que saudades de ti meu pai!
Dos teus cuidados, do teu sorriso, da tua voz forte e do tom enérgico quando ralhavas por algum mal feito meu.
Quando eu era pequenina e ainda aprendiz das primeiras letras, 
Levava-me para teu gabinete de trabalho e me oferecias um caderno novo, lápis e borracha. Nele eu desenhava, escrevia e brincava de professora com os meus alunos invisíveis.

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