terça-feira, 24 de janeiro de 2012

LEMBRANÇAS DE MEU PAI


Gracinda Calado


A música revive em atos a tua história: Um tango de Gardel.
O vento me traz momentos de alegria em que passamos juntos
No solar da velha casa da ponte.
À noite ouvindo o coaxá dos sapos no jardim, ríamos de sua música dolente sem nexo ou sem entoação.
Os grilos faziam festa nas trepadeiras amarelas e roxas, cheias de flores,
E nas roseiras pequenos besouros atrevidos se encostavam,
Atraídos pelo perfume que embriagava a todos.
Quieta em um canto eu ouvia tuas histórias e façanhas do tempo da II guerra.
O sono chegava e minha mãe levava-me pelo braço para dormir.
Recordo ainda o cheiro dos teus charutos baianos, cuja fumaça se espalhava pelo ar,
E o teu olhar quase parado no tempo recordava alguma história.
Que saudades de ti meu pai!
Dos teus cuidados, do teu sorriso, da tua voz forte e do tom enérgico quando ralhavas por algum mal feito meu.
Quando eu era pequenina e ainda aprendiz das primeiras letras,
Levava-me para teu gabinete de trabalho e me oferecias um caderno novo, lápis e borracha. Nele eu desenhava, escrevia e brincava de professora com os meus alunos invisíveis.

É NOITE!


Gracinda Calado
Da janela eu vejo a lua saindo! Tudo fica calmo e em paz.
Uma música distante chega aos meus ouvidos, e um turbilhão de lembranças e saudades me desperta.
Esta música suave trouxe de dentro de meu ser, arrancando fantasias, fatos que marcaram minha vida.
Num instante vi meu pai pensativo, fumando seu charuto, não batia os olhos, fixos que estavam no passado. Queria tanto adivinhar o que se passava em sua cabeça de homem sofrido pelos horrores da guerra que atravessou
Lembrei-me do meu amor, que já partiu pra eternidade, quando juntinhos passeávamos pela praça de mãos dadas fazendo juras e projetos. Lembrei-me de seu sorriso lindo, seus olhos castanhos, sua pele rosada, seu perfume.
Nós dois, jovens apaixonados, quanta ilusão passageira!
É noite! A música me devolve ao passado, me traz as saudades da minha mãe ainda jovem, a caminho da igreja para rezar.
As amigas que brincavam de pega-pega no quarteirão; onde estarão agora todas elas?
Lembrei-me do luar da minha terra em pleno mês de Maio, onde as estrelas só faltavam pular ao nosso encontro, e o som daquela música me levava além das montanhas, das serras onde eu passeava em tempo de férias, aproveitando os mistérios da natureza.
A noite me fez recordar os bate-papos na casa de Doralice, uma amiga muito querida, que tinha um jardim florido, cheio de rosas e flores variadas as quais exalavam um gostoso perfume. Quem passava em frente à sua casa parava para saborear o odor dos jasmins. Gostava das ‘angélicas’, branquinhas e muito perfumadas.
É noite no meu coração de outono, onde espero ainda a primavera chegar e com ela o recomeço de uma vida nova, mais alegre e alvissareira.
O coração bate ao som da música divinal e a minha alma acalma-se na proporção que a música se finda.
Lembranças da minha terra natal, Baturité, onde fui feliz e tinha tudo que eu queria.
Minha querida Passárgada.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

NO SILENCIO DA NOITE

( Gracinda Calado)


É no silencio da noite que minha voz ecoa,
Debaixo deste céu estrelado de notas azuis,
Deixo falar meu coração perto do teu.
É no silencio que se cala a alma,
Para ouvir os gemidos do coração.
Neste quadro frio desta noite calma.
Ouço vozes e sussurros mais além,
É o vento frio que passa e que vem,
Amenizar a noite calma do meu bem.
Silencio frio imortal sem alma
Fala ao meu ardente e doce coração,
Uma palavra de amor que acalma.
Na noite fria de tantos amores,
Só o silencio fala pra nós dois
Na noite escura de místicos temores.
Ò pobre alma, ilusão errante!
Vida da minha vida, luz verdadeira
Divina prece de um amor distante.
Restos de luar por sobre as praias,
Sombras passeiam tão distantes,
São imagens de uma alma errante,
Passeia, calmamente sobre os montes.
Na minha visão de alma aflita,
Procuro ouvir a voz do vento
A me falar coisas bonitas
Nesta noite de encantamento.





domingo, 8 de janeiro de 2012

INCÓGNITA

Gracinda Calado

Minha alma busca o que não vê
E nesse estado sem ninguém saber,
Não descubro o que necessito,
Nem choro o pranto do meu ser.
Coração é casa grande de emoção,
Esconde dentro dele bem querer
Descobre segredos, magias, paixão,
Histórias, lágrimas, alegrias, solidão!
Muitas lágrimas chorei de gratidão,
Muitas flores colhi em seu jardim,
Ao meu amor que cedo foi embora,
Coloquei o fim da minha história.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

ANIVERSÁRIO DE GRACIMAR

Querida filha Gracimar!

Hoje é teu aniversário, e no meu coração bate  um coração de mãe que deseja tudo de bom para um filho ou uma filha.
Gostaria de te dizer que te amo muito e que tu és um presente de Deus para mim.
Nesta hora a emoção lagrimeja meus olhos e meus pensamentos pelos valores que tens e pela mulher de fibra e coração grande que és, e eu não suporto falar tudo o que eu quero  e preciso dizer-te.
Aceita o meu abraço como se fosse pétalas de flores a te oferecer, neste dia que é só teu!
Beije tua mãe, com todo o meu afeto: Gracinda Calado Barros

MARCAS QUE JÁ SE FORAM

Gracinda Calado

Morreu o ano 2011, que antes era cobiçado, cheio de projetos invejáveis, novo como uma criança e cheio de esperanças!
O tempo como sempre acaba, apaga, destrói, transforma ou renova.
Tudo foi tão rápido em nossas vidas! Não houve tempo para realizações projetadas, nem caminhos férteis onde vingasse o que plantamos, nem chegaram a nós as chuvas para fortalecer nossos plantios fincados no coração com muitos desejos e muitos amores.
Tudo se acabou com o passar do tempo e com os minutos que eram engolidos pelo ano alvissareiro de 2011 que corria veloz em nossa cara!
O ano velho acabou-se como todo velho se acaba, desfalecendo a cada momento, a cada estação, a cada dia e cada noite, deixando-nos a esperança de um ano melhor!
Perdemos pessoas queridas que se foram para a morada dos anjos, perdemos amores, perdemos um pouco da nossa vitalidade que se foi com o ano que passou, como uma tinta que se desfaz com as primeiras chuvas.
Em nossas recordações inventamos grandes alegrias que há muito tempo se perderam no mundo de nossa imaginação.
Cantamos cantigas antigas, acendemos velas, compramos flores, fizemos promessas que às vezes não cumprimos, olhamos para o céu e achamos que ele estava mais bonito!
Contudo, não percamos a fé no desenrolar do próximo ano, pois ele também morrerá um dia e tudo se repetirá como o ano que passou e nós continuaremos a alimentar a nossa fé em Deus que é o único que jamais passará, e jamais morrerá!