quinta-feira, 22 de maio de 2008

CARTA DE AMOR (nº 12 )


CARTA DE AMOR (nº 12 )

Esta carta foi escrita por Olavo Bilac

Excelentíssima Senhora:

Creio que esta carta não poderá absolutamente surpreendê-la. Deve ser esperada. Porque V. Excia, compreendeu com certeza que, depois de tanta súplica desprezada sem piedade, eu não podia continuar a sofrer o seu desprezo. Dizem que V. Excia, me ama. Dizem, porque da boca de V. Excia, nunca me foi dado ouvir essa declaração. Como, porém, se compreende que, amando-me V. Excia, nunca tivesse para mim a menor palavra afetuosa, o mais insignificante carinho, o mais simples olhar comovido? Inúmeras vezes lhe pedi humildemente uma palavra de consolo. Nunca obtive, porque V. Excia, ou ficava calada ou me respondia com uma ironia cruel. Não posso compreendê-la: perdi toda esperança de ser amado. Separemo-nos. Para que hei de eu, que lhe amo tanto, fazer a sua desgraça? É preciso que V. Excia, saiba que a minha vida tem sido um grande combate. Já sofri fome: sobre essa miséria criei a minha independência. Chamaram-me infame: sobre essa afronta criei a minha honestidade. Chamaram-me estúpido: sobre essa injustiça criei o meu talento. E foi sobre esses três alicerces que eu edifiquei o meu orgulho. Amo-lhe tanto, que esta separação há de cedo ou tarde matar-me. Acima, porém, do meu amor está o meu orgulho. Não o quebrei aos pés de meu pai, não o quebraria aos de minha mãe: não posso, nem quero quebrá-lo aos pés de V. Excia. Creio que nos valemos, minha senhora: V. Excia, está muito acima de todas as outras mulheres, mas não está acima de mim. Há de reconhecer que nunca houve um noivado cercado de tanto gelo e de tanta indiferença. Por que? Talvez porque V. Excia, acredite que os homens devem viver esmagados pelas mulheres. Concordo. Mas isso é bom quando se trata de homens vulgares: e eu não sou um homem vulgar. Quando, pela ultima vez, nos falamos, eu preveni V. Excia, de que tomaria esta resolução, se não se modificasse o seu modo de proceder. Desta vez, como de todas as outras, ficou V. Excia, impassível. Paciência. Peço, suplico a V. Excia, que me perdoe ter perturbado a tranqüilidade de sua existência. Mas eu lhe amava muito, lhe amava como ainda hoje eu lhe amo, e queria, depois de tanta luta e de tanto sofrimento, ter um pouco de felicidade.
Perdoe-me e fique certa de que, para seu sossego, nunca mais me verá.

( Recebi de um amigo) OLAVO BILAC

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